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Opinião Social: Perceção de risco acompanha situação epidemiológica e é sensível ao contexto

Publicado a 25/11/2021

O grupo de investigação do Opinião Social analisou as respostas ao questionário que segue a perceções dos portugueses sobre a pandemia desde março de 2020 e conclui que, neste momento, a perceção de risco sentida pela população parece acompanhar a situação epidemiológica, mas é também sensível às condições do contexto.

A análise comentada, da quinzena de 30 de outubro a 12 de novembro de 2021 (1.073 respostas), incidiu sobre as temáticas da auto-perceção do estado de saúde e bem-estar, a perceção de risco, os comportamentos de proteção e o impacto da pandemia na perda de rendimentos.

Saúde e bem-estar:

Cerca de 50% dos participantes avalia o seu estado de saúde como “bom” ou “muito bom”, indicando uma estabilização dos indicadores referentes à auto-perceção do estado de saúde que se mantém desde março. É no grupo dos maiores de 65 anos que se verifica uma pior auto-perceção do estado de saúde

Ao nível do bem-estar psicológico, verifica-se também uma estabilização desde o verão, com 15% dos participantes a reportarem sentir emoções negativas – agitação, ansiedade ou tristeza – “quase todos os dias” ou “todos os dias”.

Perceção de risco:

Ao longo da pandemia, têm-se verificado oscilações na perceção de risco, com aumentos em períodos de agravamento da doença no País ou de alterações no contexto (por exemplo, mudanças no processo de desconfinamento, início do ano letivo). Portanto, o nível de ameaça sentido pela população parece acompanhar a situação epidemiológica, mas é também sensível às condições do contexto. Trata-se de um bom sinal, porque sugere que as pessoas continuam atentas e responsivas à informação que é veiculada sobre a evolução da pandemia, mas também que continuam a ter capacidade de recuperação após períodos de maior ameaça.

Nas últimas quinzenas, verificou-se uma tendência de aumento da perceção de risco, com cerca de 53% dos participantes a considerar ter um risco moderado ou elevado de ser infetado com Covid-19.

Comportamentos de Proteção:

De forma consistente com o processo de desconfinamento, verificamos um aumento da mobilidade e da socialização ao longo dos últimos meses, nomeadamente um aumento do convívio em grupos, com 38% dos participantes a reportar ter estado em grupos de 10 ou mais pessoas nas duas últimas semanas.

Simultaneamente, tem-se verificado uma redução generalizada na adesão a comportamentos de proteção, incluindo a higiene das mãos, o distanciamento físico e a utilização de máscara. As pessoas continuam a aderir às medidas, mas não de uma forma tão sistemática. Esta mudança de comportamentos é consistente com a evolução epidemiológica que nos tem acompanhado, com o aumento da perceção de proteção trazida pela cobertura vacinal e com o próprio processo de desconfinamento. Portanto, isto não quer dizer que as pessoas deixaram de se preocupar, mas sim que a sua preocupação tem implicações diferentes nos comportamentos e que o regresso a rotinas anteriores pode tornar mais difícil uma adesão sistemática.

É agora essencial ajustar a perceção de ameaça, mas também facilitar o regresso aos comportamentos que a população foi sistematizando. Para isso, é muito importante que o ambiente ajude, fornecendo as condições físicas necessárias (por exemplo, produtos de higienização disponíveis, condições para o distanciamento), mas também as condições sociais.

No caso do distanciamento físico, verificamos uma redução gradual no cumprimento do distanciamento desde o início de junho, com uma quebra mais expressiva a partir do início de setembro. Na última quinzena, cerca de 14% dos participantes reportaram cumprir sempre o distanciamento e 44% a maior parte das vezes. É importante considerar que a manutenção da distância física está muito dependente das condições do ambiente, sendo que o aumento da mobilidade e as alterações à lotação de espaços podem tornar mais difícil manter esse distanciamento.

Por outro lado, é preciso considerar também o papel das obrigações e restrições impostas. O caso do uso de máscara ilustra este aspeto. Ao longo do Verão, fomos verificando uma redução gradual na utilização sistemática da máscara, incluindo uma inversão na tendência de utilização em contextos de socialização e participação em eventos de grupo. No caso da utilização de máscara no exterior, verificámos uma redução substancial a partir do início de outubro, sendo que atualmente apenas 24% dos participantes afirma utilizar sempre a máscara no exterior, contrastando com os valores de cerca de 40% anteriores. Esta redução é coerente com o fim da obrigatoriedade de utilização da máscara no exterior que ocorreu em setembro.

Contudo, a utilização de máscara em espaços interiores acompanhou a tendência de redução. Embora a maioria das pessoas reporte continuar a utilizar máscara no interior a maior parte das vezes ou sempre (83%), houve uma redução. Na última quinzena apenas 52,6% dos participantes reporta utilizar sempre a máscara em espaços fechados, por contraste com os cerca de 70% verificados até ao início de setembro.

Este dado sugere que os comportamentos de proteção não são independentes uns dos outros. Cada um de nós foi introduzindo nas suas rotinas estes comportamentos e, com muito treino e pistas no ambiente, fomos sendo cada vez melhores a adotá-los de forma sistemática. Quando aligeiramos um deles, corremos o risco de nos ir distraindo com os outros porque, de alguma forma, quebramos as rotinas que fomos instituindo e com elas os automatismos que desenvolvemos. Isto não significa que precisamos necessariamente de imposições, mas que podemos precisar de construir novas rotinas, de novas pistas que nos recordem.

Adicionalmente, este aligeiramento na adesão a medidas pode trazer consigo alguma pressão social nova, em que as pessoas já não sabem muito bem o que é que os outros esperam de si e podem até ser confrontadas com reações negativas dos outros, quando mantêm comportamentos de proteção em situações de proximidade, como se fosse um sinal de desconfiança.

Se pensarmos de forma racional, aqueles que mais queremos proteger são os que nos são queridos, mas, ao mesmo tempo, é junto deles que tendemos a sentir-nos mais seguros porque transferimos a confiança das relações para uma noção irracional de segurança, como se cada um de nós pudesse garantir a 100% que não está infetado e não vai infetar outros. Portanto, precisamos de contrariar esta sensação de segurança e separar a confiança que marca as nossas relações da adoção de medidas de proteção. No fundo, precisamos de recordar que, de cada vez que temos o cuidado de higienizar as mãos, de manter a distância física, de colocar a máscara estamos a cuidar dos nossos, estamos a ter a coragem e a resiliência de contribuir para combater este vírus. Por outro lado, precisamos de valorizar todos aqueles que têm essa atenção connosco. Esta sensação de dar e receber é essencial para que cada um de nós sinta que faz parte de algo e que o seu esforço vale a pena.

Impactos da pandemia por grupos sociais:

No início da pandemia, o Opinião Social identificou um gradiente social em diferentes impactos da pandemia, nomeadamente ao nível da perda de rendimentos. Neste momento, cerca de um quarto dos participantes reporta perda de rendimentos.

Este valor é bastante mais elevado nos escalões de rendimentos mais baixos, sendo reportada perda de rendimentos por 38% dos participantes com rendimentos entre os 650 e os 1000€ e por 50% dos participantes com rendimentos inferiores a 650€.

Ao mesmo tempo, observa-se uma tendência para que estes participantes com rendimentos mais baixos reportem um pior estado de saúde e uma maior frequência de emoções negativas. Estes dados salientam mais uma vez a necessidade de estarmos atentos ao exacerbar das desigualdades sociais e à necessidade de implementar medidas.