O Barómetro Covid-19: Opinião Social fez a análise das perceções dos portugueses face à pandemia da COVID-19 nas duas últimas quinzenas (de 10 a 23 de julho de 2021). Seguem os principais resultados:
Saúde e bem-estar
Mantém-se a estabilização nos indicadores referentes à auto-percepção do estado de saúde, com a maioria dos participantes (56%) a avaliar o seu estado de saúde como bom ou muito bom.
Ao nível do bem-estar psicológico verifica-se também uma estabilização desde março, com 19,4% dos participantes a reportarem emoções negativas – agitação, ansiedade, em baixo ou triste -, quase todos os dias ou todos os dias.
É no grupo dos mais jovens (16-25 anos) que se verifica uma maior percentagem de emoções negativas (29,7%), enquanto no dos maiores de 65 anos se verifica uma percentagem bastante inferior (11%). Para os investigadores “estes dados sugerem um impacto no dia a dia e no bem-estar psicológico distinto, de acordo com os grupos etários e, portanto, a necessidade de se desenvolverem formas de deteção e intervenção também diferenciadas. Para os mais jovens, a redução do contacto social e as restrições à organização do quotidiano parecem ter imposto uma mudança mais substancial e, ao mesmo tempo, mais contrastante com o habitual nestas fases da vida. Para os mais velhos, passar mais tempo em casa e estar menos tempo com outras pessoas pode ser mais próximo das rotinas habituais”, explica Ana Rita Goes, docente da ENSP-NOVA e coordenadora científica do Opinião Social.
Perceção de risco
A perceção de risco de ficar infetado com Covid-19 tem-se mantido estável desde março de 2021, com 47% dos participantes a considerarem o seu risco moderado ou elevado, sendo esta percentagem mais baixa nos maiores de 65 anos (39,9%).
Já no que se refere à perceção de risco de desenvolver doença severa ou complicações, tem-se verificado uma tendência de descida, com cerca de 45% dos participantes a considerarem o seu risco moderado ou elevado. Neste caso, é nos grupos etários mais jovens (16-25 e 26-45) que se verifica uma percentagem mais baixa de participantes a considerar o seu risco desenvolver doença severa ou complicações moderado ou elevado (cerca de 38%). O grupo dos maiores de 65 anos mantém uma percentagem elevada (60,9%).
Comportamentos de proteção: A lavagem das mãos continua a ser o comportamento de proteção percebido como mais fácil de adotar (96% dos participantes considera fácil ou muito fácil), seguida do uso de máscara (83% considera fácil ou muito fácil).
No que se refere ao distanciamento, tem-se verificado uma tendência de aumento da perceção de dificuldade para manter a distância de 2 metros (31,4% considera difícil ou muito difícil), com os grupos etários mais jovens a reportarem maior dificuldade.
Finalmente, os participantes percebem como cada vez mais difícil evitar confraternizar com amigos e familiares (57% considera difícil ou muito difícil), com os mais jovens a referirem maior dificuldade, o que é consistente com a necessidade de socialização inerente a esta etapa de desenvolvimento. “A vontade de aumentar cada vez mais a interação com amigos e familiares pode aumentar o desafio de rastreamento de contactos e também favorecer um aumento do número de pessoas a isolar por cada caso positivo. Poderá ser importante investir em mensagens que aumentem a consciência da população quanto à dispersão da sua bolha de contactos e relembrar quais os comportamentos que devem adotar quando interagem”, sugere a coordenadora. “O momento de férias aumenta este desafio.”.
Vacinação
A maioria dos participantes do Opinião Social já foi vacinado (74%). Entre os não vacinados, cerca de 23% não tem intenção de tomar a vacina ou ainda não decidiu, estando a esta hesitação vacinal mais concentrada na população em idade ativa (26-65) . A falta de informação e o receio de desenvolver efeitos secundários são os motivos mais apontados para a hesitação quanto à toma da vacina.
Adequação das medidas implementadas pelo Governo no combate à Covid-19
Cerca de 43% dos participantes considera as medidas adotadas pelo Governo pouco ou nada adequadas.
Este valor tem vindo a aumentar desde maio e, segundo os investigadores, “pode comprometer a motivação da população para aderir a medidas de combate à pandemia”. Os dados do Opinião Social sugerem uma adesão elevada a medidas de proteção individual e facilidade em adotar a maioria delas. “Importa auscultar a população para compreender que tipo de medidas são percebidas como desadequadas e quais os motivos, ajustando depois a comunicação.”
Expetativas em relação ao fim de restrições impostas pela pandemia
Cerca de 90% dos participantes espera que as restrições impostas pela pandemia se mantenham até dezembro, ou até ao próximo ano, ou mesmo para sempre, sugerindo uma posição menos otimista do que em período semelhante de 2020, quando ainda não havia vacinação. A equipa do Opinião Social sugere que “importa explorar, através de mecanismos e contextos de auscultação da população, de social listening (monitorização das redes sociais), o que esperam os portugueses que se mantenha e o que percebem como razoável para o futuro, para se poderem gerir expectativas.