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Excesso de mortalidade, mortalidade colateral e resposta dos serviços de saúde em Portugal em tempos de COVID-19

Publicado a 02/11/2020

O grupo de investigação Políticas e Intervenções do Barómetro Covid-19 analisou os óbitos entre os dias 16 de março de 2020, dia em que Portugal notificou o primeiro óbito de COVID-19, e 30 de setembro de 2020, concluindo que houve um excesso de mortalidade de 12% (mais 7 529 óbitos do que aqueles que seriam de esperar com base na mortalidade média dos últimos cinco anos). 68% desses óbitos não foram causados pela COVID-19.

Segundo a análise, desde o início da pandemia, observou-se uma quebra muito significativa no número de prestações dos serviços de saúde portugueses. Em 2020, observou-se uma redução de consultas presenciais e domiciliares em cuidados de saúde primários (-53% e 49% respetivamente), de consultas em hospitais (-11%), de meios complementares de diagnóstico e terapêutica (-50%), de episódios cirúrgicos em ambulatório e de intervenções cirúrgicas (-21%) considerando as médias dos anos anteriores. Até as intervenções cirúrgicas de natureza urgente tiveram uma redução de 9 por cento.

Os cuidados de saúde primários mudaram significativamente o seu modelo de prestação, substituindo as suas consultas tradicionais por consultas não presenciais e não específicas que aumentaram 116%, fazendo com que o total de consultas médicas nos cuidados de saúde primários só tenha caído cerca de 4%. Os autores sugerem inclusivamente que “valerá a pena estudar o impacto desta mudança na qualidade dos cuidados prestados”.

Os investigadores indicam também que, em 2020 se observou uma queda de cerca de 8% na procura de cuidados pré-hospitalares, mais acentuada para os cuidados de alta prioridade. Isto sugere que doentes com sintomas graves, que justificariam acionar meios de assistência pré-hospitalar de suporte imediato ou avançado de vida, terão tido relutância fazê-lo, com medo de se infetarem com COVID-19.

Durante este período os casos classificados como baixa prioridade, e por isso referenciados para a Saúde 24 aumentaram 41%. Isto sugere que ebarometro-covid-19.ensp.unl.pt/…/excesso-de-mortalidade-colateral-temperaturas-e-no-de-atos-02.112020.pdfm tempo de COVID-19, ou os doentes passaram a pedir a ativação dos cuidados pré-hospitalares por motivos mais triviais, ou terão mudado os protocolos de atendimento que determinam as ativação desses meios.

Consulte o working paper integral aqui.