Lançado 3 dias após a declaração do Estado de Emergência, o Barómetro Covid-19: Opinião Social surgiu como um projeto que tinha como objetivo acompanhar as perceções e comportamentos da população em Portugal durante a pandemia da Covid-19 e compreender em tempo real o seu impacto na saúde, bem-estar e quotidiano da população.
Ao monitorizar a perspetiva do cidadão, procurou dar-lhe voz e contribuir para a sua centralidade no sistema de saúde, e a forte adesão das pessoas surpreendeu os investigadores. “Com cerca de 190 mil respostas ao longo do tempo, tornou-se clara a pertinência e utilidade deste projeto face à ausência de informação oficial sobre como os cidadãos estavam a vivenciar a pandemia e os seus efeitos”, explica Sónia Dias.
Ao longo de 15 semanas, o Barómetro Covid-19: Opinião Social monitorizou as perceções e comportamentos das pessoas, indicadores socioeconómicos, de saúde e de efeito das medidas de combate à pandemia. A cada semana a equipa apelou ao preenchimento do questionário, cujas perguntas foram sendo adequadas, ao longo do tempo, à fase da pandemia que o país atravessava.
As primeiras semanas do questionário confirmaram a adesão das pessoas ao confinamento, mas também o receio que as pessoas tiveram, por exemplo, da possibilidade de escassez de bens de primeira necessidade, confirmada pela caricata falta de papel higiénico nos supermercados e pelo açambarcamento de bens de primeira necessidade.
O feedback dos cidadãos permitiu recolher “fotografias” do que estava a acontecer a cada momento, mas também identificar tendências ao longo das fases de desconfinamento e da evolução dinâmica da Covid-19. “As primeiras respostas às questões relativas à saúde mental deixaram logo a equipa em alerta. À medida que o confinamento se foi prolongando, as pessoas reportavam cada vez mais preocupações relativas à perda de rendimento e sentimentos de ansiedade, agitação e tristeza devido ao distanciamento social”, exemplifica Sónia Dias.
Também a perceção do risco foi alvo de análise do Barómetro Covid-19: Opinião Social. Passado 1 mês de confinamento, os portugueses mostravam estar a adaptar-se aos fatores diretamente relacionados com a Covid-19, como as medidas de prevenção, mas sentiam dificuldades em gerir a vida quotidiana de confinamento em casa, nomeadamente a gestão trabalho-família.
O questionário deu também a conhecer a evolução do acesso aos cuidados de saúde durante este período. Nas primeiras semanas de confinamento, uma percentagem significativa de pessoas, principalmente as mais velhas, reportavam não terem tido consultas médicas que necessitavam. A inversão desta tendência começa a ser claramente observada a partir da primeira fase do desconfinamento, com cada vez mais pessoas a reportarem ter tido consultas médicas e a recorrerem às urgências em caso de necessidade.
Assistiu-se também a um aumento da confiança das pessoas na capacidade de resposta dos serviços de saúde à Covid-19. “Por exemplo, em 5 semanas de questionário (entre 21 de março e 24 de abril), a percentagem de pessoas que diziam estar muito confiantes nos serviços mais do que duplicou”, explica a coordenadora.
Dois meses após o início do confinamento, a equipa do Barómetro Covid-19: Opinião Social confirmava desigualdades crescentes em saúde, mostrando que são os grupos mais desfavorecidos os que têm menor capacidade para se proteger e que a crise da Covid-19 afeta desproporcionalmente os mais vulneráveis. São as pessoas com baixos rendimentos e baixa escolaridade as que mais reportaram ter dificuldades em comprar máscaras, não ter tido consultas médicas quando necessitaram e é também esta a população mais afetada pela perda de rendimento. “A análise do Barómetro Covid-19: Opinião Social mostrou claramente um agravamento das desigualdades, com uma em cada quatro pessoas que ganham menos de 650 euros (agregado familiar) a reportar perder totalmente o seu rendimento, enquanto que nas categorias de rendimentos superiores a 2500€, apenas 6% das pessoas perderam o rendimento” relembra Sónia Dias.
Com o fim do estado de emergência, Portugal passou para a situação de calamidade e o Governo decretou, a partir do dia 3 de maio, um plano de desconfinamento progressivo e gradual, para se retomar, em segurança, a atividade social e económica do país.
Nesta altura, para além da Covid-19, a crise económica e social já se fazia sentir e o Barómetro Covid-19: Opinião Social mostrou como as gerações em idade ativa (até aos 45 anos) foram as que sofreram maior impacto, sendo o grupo etário mais afetado pela suspensão da atividade profissional, com a perda de rendimentos mais significativa e que mais tem que trabalhar no local de trabalho. “Há 10 anos, numa altura em que davam início à sua vida profissional, estas foram as pessoas mais fortemente afetadas pela crise que envolveu o resgate da Troika, ficando apelidadas inclusivamente de “geração à rasca””, acrescenta ainda a coordenadora.
O Opinião Social também seguiu a evolução da expectativa que as pessoas tinham sobre o tempo que demoraria para que as suas vidas voltassem à normalidade. O número de pessoas que esperavam que a sua vida voltasse ao normal dentro de 1 a 3 meses baixou consideravelmente à medida que o tempo foi passando, passando de 60% para 20%. Adicionalmente, o número de pessoas que julgam que demorará mais de 3 meses, ou que não sabem quanto tempo demorará para que a vida volte ao normal teve um aumento de cerca de 75%.